sexta-feira, 28 de outubro de 2011

SOBRE MULHERES E BOLACHAS

Outubro é o mês de aniversário da minha mulher. Ela está ficando mais velha, e mais bonita! É o que eu acho, como admirador da beleza que ela me transmite a cada dia. Eu gosto de admirar a beleza de mulheres mais velhas, como é a beleza da minha mulher, que está ficando mais velha, e mais bonita.

Eu sei que os homens, aliás, a maioria das pessoas, costuma vincular a beleza à juventude. Existe até uma expressão que se costuma usar, uma expressão debochada, criativa, onde se diz que "não existe mulher bonita, o que existe é mulher nova!"

Eu acho a frase até bem bolada, "sutil", engraçadinha, mas não concordo muito com ela não.

Como assim - "mulher nova"??? Nova, que eu saiba, tem que ser bolacha, ou empada, ou picanha, essas coisas. A gente passa pela padaria e já vai perguntando: - A bolacha é nova? A empada é de hoje? Ou então vai até o açougue e diz: - Me vê uma picanha, mas nova, hein, porque senão ninguém consegue comer! Até aí tudo bem: empada, bolacha, picanha, tudo isso tem que estar novinho, de forma a ser aceito pelo paladar dos comensais.

Mas mulher, não. Onde já se viu comparar mulher a picanha, a quindim, a rapadurinha. É bem verdade que existe mulher melancia, mulher morango, mulher pêra, e essas realmente tem que ser novas, pois com o passar do tempo deverão perder o prazo de validade, e, aí sim, tal como as frutas, haverão de se tornar também incomíveis para qualquer um.

Mas mulher, mulher de verdade, não precisa ser assim não. Mulher não é só carne, ou peito, ou bunda... Mulher é cheiro, é pele, é perspicácia, é intuição, é segredo, é mistério... Mulher - diz o poeta - tem até alma, embora a alma de uma mulher contenha tantos mistérios que é mais fácil descobrir os segredos do universo do que uma simples partícula da alma feminina.

As mulheres são assim, e mais, são decididas, dinâmicas, resolvidas. Elas - sabe-se já há algum tempo - possuem a tal visão periférica, que lhes permite ver e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Por isso podem ser mães, trabalhadoras, donas de casa e amantes, tudo a um só tempo, diferentemente dos homens que não conseguem sequer falar ao telefone enquanto assistem ao jogo de futebol. E olha que ainda são as mulheres que alcançam a cerveja...

Então, que história é essa de que mulher tem que ser nova, ou tem que estar "no ponto"? Mulher não é chuleta, não é bife, e o verdadeiro ponto de uma mulher passa as vezes a vida inteira sem ser descoberto.

Mulher não tem que ser nada disso, não precisa ser nova, e, aliás, nem necessita se manter permanentemente uma deusa da beleza.

Mulher tem que ser mulher, simplesmente, e, principalmente, tem que ser descoberta pelo seu parceiro como tal. Mas essa, provavelmente, deve ser a parte mais difícil para os homens...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

UMA VISITANTE ILUSTRE

A moça da foto aí de cima – de uma beleza estonteante, incomum – é a mesma senhora da foto lá de baixo – igualmente bela, de uma classe e elegância também incomuns – e que esteve em visita a Arroio Grande no último sábado (22/10).
Maria Tereza Goulart, a eterna “Primeira Dama”, foi, como mulher do ex-presidente João Goulart, um personagem único da República, verdadeiro símbolo de um tempo que deixou profundas marcas no Brasil e no povo brasileiro.
Praticamente vizinha de João Belchior Marques Goulart, em São Borja, RS, Maria Tereza Fontella começou a namorar o político Jango (vinte anos mais velho) muito cedo, quando ela tinha apenas 16 anos de idade.
Do rápido namoro ao casamento, Maria Tereza tornou-se, então, “concunhada” de Leonel Brizola, casado com Neusa Goulart (irmã de Jango) e governador do Rio Grande do Sul à época.
Em consequência, a mocinha Maria Tereza acompanhou todos os fatos marcantes da República no período, desde a eleição de Jango como Vice-Presidente em 1959 até a morte deste, na Argentina, em 1976.
Testemunhou a insegurança e o isolamento do marido no poder desde que ele assumiu como Presidente após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961; testemunhou o famoso comício da Central do Brasil, antes da derrubada de Jango, em março de 1964; testemunhou a triste animosidade que ficou entre os cunhados depois do golpe militar, quando, ambos exilados, deixaram de se falar; testemunhou a comoção que foi o enterro de Goulart, em São Borja, em 1976, quando a filha do casal, Denise, num gesto simbólico, jogou uma faixa onde se lia “Anistia” no caixão do pai, expondo para o país uma expressão proibida pelos militares golpistas que jogaram o Brasil nas trevas da ditadura; e testemunhou, por fim, a redemocratização do país que possibilitou inclusive o ingresso do seu filho João Vicente na política, como deputado federal, sem, entretanto, herdar, ainda que minimamente, o carisma do pai.
Agora, num gesto de grandeza e, ao mesmo tempo, de extrema simplicidade, a “mulher de Presidente mais bonita na história da República” – no dizer do jornalista Alberto Dines –, a moça que rivalizou com Jacqueline Kennedy como símbolo de beleza nos anos 1960, a eterna “primeira dama”, vem até o nosso pequeno município para receber mais uma homenagem, entre tantas que a família Goulart tem recebido pelo país durante esses anos todos.
E o governo trabalhista local, responsável pela vinda da ilustre visitante, tem mais um feito para se orgulhar, pois mostrou respeito reverencial à história trazendo até Arroio Grande não só a mais famosa primeira dama do país, mas uma cidadã que ainda mantém viva na memória a reminiscência de um tempo que os brasileiros esperam que nunca mais se repita.Maria Tereza Goulart recebe homenagem do Prefeito de Arroio Grande Jorge Cardozo (PDT)

sábado, 22 de outubro de 2011

DIÁRIAS

As diárias retiradas pela Câmara de Vereadores de Arroio Grande - R$ 105.000,00, no ano de 2010, conforme divulgado pela RBS -, colocaram o Poder Legislativo do município em 20° lugar no Estado e em 1° lugar na zona sul, pelo gasto excessivo com diárias.

Tal notícia, como não poderia deixar de ser, causou enorme repercussão nos meios jornalísticos da cidade (acima) e motivou a crônica "O Mensalão Daqui" (abaixo) que vai além, muito além das diárias.

O MENSALÃO DAQUI

Em política, todo lugar possui as suas peculiaridades, e as virtudes e os defeitos de cada político podem ser medidos conforme as suas atitudes no decorrer da vida pública.
O governo do Presidente Lula, por exemplo, destacou-se como o governo que diminuiu fortemente a desigualdade social no País, entre inúmeros outros avanços; entretanto, acabou também manchado pelo caso “mensalão”, um mal explicado episódio de corrupção ou de dinheiro não contabilizado, que ainda aguarda no STF a sua definição.
Pois aqui em Arroio Grande não é diferente e, como em qualquer lugar, nós temos coisas positivas e negativas na nossa política.
Temos, inegavelmente, um Prefeito correto e trabalhador, e uma Vice-Prefeita que bem representa a mulher atual – moderna e dinâmica –; temos também vereadores trabalhadores e bem intencionados, e líderes comunitários interessados e participativos.
Isso é o bom, o lado positivo da nossa política.
Mas, por outro lado, não podemos deixar de notar as nossas carências e dificuldades, que nos colocam o tempo todo frente a lideranças completamente despreparadas para o exercício da função pública e que não fazem o menor esforço para se comportar de acordo com o mínimo que delas se exige.
Somos, por exemplo, a cidade do palavreado chulo, do “seje”, do “teje”, do “vaia”, a cidade do “enganjamento”; somos a cidade do populismo e da demagogia, onde as nossas principais expressões políticas alardeiam que “quem não tem voto não pode falar de quem tem voto”, numa mostra absurda de despreparo, como se a balconista, o garçom, o médico e o advogado não pudessem questionar os seus representantes. E somos, agora e finalmente, também a cidade que é notícia em todo Estado por ser uma das “campeãs” no gasto com diárias dentro do Poder Legislativo.
Tudo isso, isto é, o populismo exacerbado, a demagogia barata, a farra das diárias, o destempero verbal e a dificuldade de convivência com a crítica, têm levado a classe política local a um enorme desgaste e está conduzindo as pessoas de bem da nossa cidade à descrença e a falta de perspectivas.
Vivemos um tempo de desesperança, que nem o trabalho honesto e honrado de um Jorginho e de uma Mariela, ou de um Henrique, ou de um Rafael, só para ficar com alguns exemplos, vai conseguir resgatar, ainda que eles ganhem mais um, ou dois mandatos.
Escrevo isto sem qualquer alegria ou prazer, escrevo isto sem a intenção de atingir ninguém, respeito todos, absolutamente todos os que se doam na difícil tarefa de ocupar um cargo público, seja no Executivo ou no Legislativo, mas escrevo assim porque vejo na desencanto da sociedade de Arroio Grande um indicativo de que nós estamos mal, muito mal, naquilo que é mais caro ao conjunto da coletividade: a autoestima.
Porque, definitivamente, pelos “exemplos” que temos recebido, o mensalão daqui não vem da corrupção e nem de dinheiro não contabilizado, o mensalão do Arroio Grande vem da ignorância e do despreparo que tem moldado populistas e demagogos, e, o que é pior, ele não vem servido em doses mensais, nem semanais, mas em diárias.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FRANCISCO

No embalo da crônica anterior, encontrei o programa do espetáculo de estréia do show Francisco, de Chico Buarque, assistido “ao vivo” no Canecão, Rio de Janeiro, em 06.01.1988 (se as anotações da época estiverem corretas), quando Chico voltou aos palcos depois de 12 anos sem qualquer apresentação.
Na ocasião, pude conhecer o meu então “companheiro” de Partido Comunista, o arquiteto Oscar Niemeyer, cujo encontro resultou na crônica “Cem Anos”, publicada neste blog em data de 14 de março de 2008, logo no início da criação da página.
No programa do show do Chico consta uma fotografia histórica, que retrata o encontro de um grupo de músicos, artistas e intelectuais publicada originalmente na Revista Manchete há cerca de 45 anos, aqui reproduzida em duas partes, como se pode ver abaixo.

De cima para baixo: Letícia Ploczynka, Edu Lobo, Tom Jobim, Torquato Neto, Caetano Veloso, Capinam, Olívia Hime, Helena Gastal, Francis Hime, Luiz Eça, João Araújo, Nélson Motta e Jandira Negrão de Lima

Também de cima para baixo: Paulinho da Viola, Sidney Miller, Zé Kety, (?), Eumir Deodato, Vinícius de Moraes, Dori Caymmi, Dircinha Batista, Chico Buarque, Luiz Bonfá, Tuca (?), (?) e Braguinha.

sábado, 15 de outubro de 2011

"AO VIVO"

Com Verônica (e Dani), em Buenos Aires, esperando Madonna;


com Pedro Gabriel, no Monumental de Nuñez, esperando AC/DC ;


com Maria Eduarda, no Beira-Rio, esperando Justin Bieber.

O primeiro show de música que assisti “ao vivo” foi da cantora Gal Costa, em Porto Alegre, quando eu tinha apenas 14 anos de idade. Logo em seguida, veio o show da Rita Lee, em Pelotas, quando o ousado (para a época) “Esse tal de Roque Enrow” e a superlotação levaram a uma quebradeira geral do Teatro Guarany.
Depois, presenciei “ao vivo” shows dos maiores nomes da música brasileira, quase todos eles. Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento, João Bosco e Roberto Carlos entre muitos outros. Dos “grandes”, só faltaram mesmo Vinícius de Moraes e Tom Jobim, ah, e o João Gilberto, sendo que este último ainda é possível, apesar dos preços proibitivos da apresentação que fará em novembro, em Porto Alegre.
Assisti também, sempre “ao vivo”, muitos compositores e intérpretes nacionais de primeira linha: Belchior, Luiz Melodia, Lulu Santos, Adriana Calcanhoto, Ivete Sangalo, Marina Lima, Geraldo Azevedo, e o falecido Taiguara (este em Pelotas e – quem diria! – em Herval), assim como três dos maiores nomes da música latino-americana – os argentinos Mercedes Sosa (em Santa Rosa) e Fito Paez (em Porto Alegre), e o uruguaio Daniel Viglieti (em Pelotas e Montevídeo).
Por aqui, pude presenciar “ao vivo” a maioria dos bons músicos gaúchos: Nei Lisboa, Bebeto Alves, Nelson Coelho de Castro, Jerônimo Jardim, Raul Elwanger, Gelson Oliveira, Renato Borghetti, Marcelo Caminha, Mauro Moraes, Vitor Ramil, Kleiton e Kledyr e os antigos “Almôndegas”, assim como assisti os duos uruguaios Labarnois e Carrero, e “Los Olimareños”, El Negro Rubem Rada e o argentino Antônio Tarragô Ross, entre outros sul-americanos que nos visitaram ao longo dos anos.
Esse meu gosto, digamos “eclético”, para a música, acabou por me fazer presente em shows que normalmente eu não iria, e, confesso, gostei de praticamente todos eles.
Há cinco anos, fui com a minha mulher Verônica a Buenos Aires assistir ao show da diva pop Madonna; depois, quando o meu filho Pedro Gabriel fez 15 anos fui com ele – também na capital Argentina – assistir a banda de rock australiana AC/DC, sendo que ambos os espetáculos foram extraordinários, fantásticos, arrebatadores.
Pois agora, nos 13 anos da minha filha Maria Eduarda, acabo de assistir em Porto Alegre ao show do Justin Bieber, no Estádio Beira-Rio. E também gostei, especialmente de ver a felicidade da minha filha, que pode presenciar “ao vivo” o garoto bonitinho do Canadá, num show que as adolescentes curtem como se fosse o último dia das suas vidas.
Tudo isso me levou a pensar, porém, se quem sabe já não está na hora de os meus filhos encaminharem sozinhos a sua trajetória de espectadores de grandes shows, para que o pai deles possa tranquilamente encerrar a sua.
É verdade. Trinta e cinco anos depois do primeiro espetáculo ao vivo penso que está na hora de descansar. Viagens, filas, disputa por espaço, não seduzem mais a quem já viu um pouco de tudo. Portanto, aviso: a partir de agora, de hoje, chega de shows “ao vivo”, anuncio que parei!
A não ser que o João Gilberto venha tocar aqui em Arroio Grande, de preferência no bar da minha própria casa, ou então que a loucura genial do Caboclo Damatta seja enfim reconhecida e ele venha a se apresentar, digamos, no Central Park, em Nova Yorque. Porque aí, podem ter certeza, eu arrumo novamente as malas e vou pedir pela primeira vez um visto aos americanos. I’m sorry, Tio Sam.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

sábado, 8 de outubro de 2011

VISITANTES



(Multidão em Minsk, capital da Bielorrússia: estará aí o visitante do blog?)

Este blog, o Autorretrato (que antes se chamava Auto Retrato, mas mudou em respeito às novas regras ortográficas, não é Prof.ª Maristela?), tem pouco mais de três anos de atividade e acaba de ultrapassar os trinta mil visitantes.
Eu sei que esse é um número pequeno, que alguns blogs atingem isso já na primeira semana, sei também que muitos visitam a página por acaso, mas 30 mil são 30 mil, ora bolas!
Na verdade, o blog não se presta para fazer fofoca, não fala mal de ninguém e nele pouco tem sobre futebol. Então, que diabos o visitante vai procurar numa página dessas, afinal?
Para ser sincero, aqui se escreve basicamente sobre literatura e sobre história, e, quase que exclusivamente, sobre as coisas do Arroio Grande. Quer dizer, existem poucos motivos para que visitem o blog.
E de repente, isto é, depois de três anos e pouco, mais de 32 mil pessoas já passaram por aqui e leram, ou ao menos acessaram algum texto que está na página.
São visitantes de todos os lugares, a maioria, obviamente, brasileiros. Cerca de 50% são gaúchos, mas apenas 25% são de Arroio Grande ou da região. (É o que dá para depreender de um dos contadores de visitas que, colocado na página há cerca de um ano e meio, identifica a localidade do visitante, daí ser possível uma avaliação, ainda que aproximada).
De tudo, o que mais me chama a atenção, é que entre os 15 mil visitantes da página no último ano e meio – 14 mil brasileiros, quase 500 portugueses, 250 americanos, 100 uruguaios... – existe um, isto mesmo um, unzinho que é oriundo da Bielorrússia.
A Bielorrússia – ou Belarus – é uma antiga República Soviética, e, depois da sua independência, em 1991, tornou-se um país encravado entre a Rússia, a Ucrânia, a Polônia, a Lituânia e sei lá o que mais. Na Bielorrússia se fala, logicamente, bielo-russo, um idioma terrível, complicado, onde o russo se torna até fácil devido às complicações do bielo-russo.
Eu tenho o maior carinho por esse meu “leitor" (que é de Minsk, a capital da Belarus), ele que apareceu na página certamente por acaso, e às vezes fico imaginando quem é essa figura, o que faz na vida, que tipo de literatura prefere, em que idiomas lê e outras curiosidades.
Mas, confesso, não tenho muita vontade de conhecê-lo não, afinal se num improvável encontro ele me disser: – Добрай раніцы, прыемна пазнаёміцца – eu não saberei bem o que responder, quem sabe até arrisque um: – Para ti também! –, mas não sei não, não sei não...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE - (V) - MAXIMIANO MUÑOZ

Nas fotos: Maximiano com os filhos: Palmira, Eduardo e Guilherme (acima)...
com a mulher, Elza Muñoz (ao centro), e recebendo a faixa de Campeão, pelo G. E. Internacional, de Galego, técnico do G. E. Brasil (abaixo).

Nascido em Pelotas no dia 18/08/1933, filho de João Thomaz Muñoz e de Palmira Baptista Muñoz, Maximiano Muñoz foi um grande personagem do Arroio Grande, cidade onde se dedicou à agropecuária, ao esporte e também a política, mesmo sem jamais ter ocupado qualquer cargo público.
Casado com a pelotense Elza Kruger Muñoz, com quem teve os filhos Guilherme, Palmira, Eduardo (Dado) e Maximiano Filho, Maximiano teve ainda outros filhos que não do seu casamento, sempre exaltando a satisfação que tinha em sentar ao lado da criançada para rememorar "causos" e contar histórias.
O “Gordo”, como também era conhecido, dedicava-se especialmente a ovinocultura, setor onde nas décadas de 1960 e 1970 obteve o maior índice de natalidade em rebanhos ovinos da região, sendo este o seu grande orgulho como pecuarista.
Já na agricultura, foi plantador de milho, soja e arroz, sendo que nesta cultura teve o grande prejuízo de sua vida profissional, com a perda de uma lavoura de 800 quadras de arroz inundadas pela Lagoa Mirima, em Santa Vitória do Palmar, na grande cheia que vitimou as terras daquele município, no ano de 1962.
Na política, Maximiano sempre esteve próximo à esquerda local, apoiando os partidos que davam sustentação ao trabalhismo em Arroio Grande, notadamente ao PTB, de Jango e Brizola.
No esporte, Maximiano destacou-se como Presidente do Grêmio Esportivo Internacional (1960/1961 – 1963/1964), sendo protagonista da maior conquista da história do Clube – Campeão Estadual de Amadores (temporada de 1963, encerrada em 1964) – quando os Caturritas sagraram-se campeões depois de vencerem o Grêmio Lourenciano após longa disputa de pênaltis, em jogo épico disputado em campo neutro, no Estádio Bento Freitas, na cidade de Pelotas.
Ainda que extremamente devotado ao Internacional local, Maximiano tinha como grande paixão no futebol exatamente o Brasil de Pelotas, Clube pelo qual foi sócio e dirigente, e onde foi buscar o jogador Naiter, que se tornaria, mais tarde, grande ídolo Caturrita e símbolo da conquista de 1963/1964.
É célebre a passagem do Clube pelotense por Arroio Grande, exatamente para colocar as faixas no G. E. Internacional, estando o Gordo Maximiano a torcer ora por um, ora por outro time, pois, embora dirigente do Caturrita, não conseguia deixar de torcer pelo seu Xavante de coração.
Maximiano Muñoz faleceu precocemente em 1980, com apenas 46 anos de idade, deixando muitas histórias e grande admiração entre os que o conheceram em Arroio Grande e na região.
O autor desta página recorda, desde criança, da amizade de seu pai – Pedro Jaime Bittencourt – com Maximiano, e das viagens que faziam nas “caminhonetas” do Gordo para a Praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, num clima de descontração e camaradagem, comum apenas a grandes e verdadeiros amigos.
Por tudo que representou – na agricultura, na pecuária, na política, no esporte e na própria vida social e profissional -, Maximiano Muñoz foi inegavelmente um grande personagem do Arroio Grande; inesquecível.

sábado, 1 de outubro de 2011

PRESENÇA DE ESPÍRITO



Na crônica da semana passada, fiz referência ao AGDEPRÊ, um twitter que se utiliza de frases irônicas – às vezes caprichadas, às vezes nem tanto – para protestar contra o cotidiano da cidade. Algumas pessoas não gostam, pois acham que a página deprecia Arroio Grande. Isso é uma grande bobagem, o mundo precisa de maior irreverência exatamente para combater a mediocridade.
A presença de espírito é tudo, ela serve, inclusive, para chamar a atenção de situações que necessitam ser alteradas.
É célebre a ocasião em que Érico Veríssimo, de passagem pelos Estados Unidos ainda fortemente racista dos anos 50, preenchendo a ficha de ingresso em um hotel, ao perceber que após os espaços de colocação de nome, endereço, sexo, havia ainda o pedido de declaração de “raça” do hóspede, não titubeou: – Humana! – declarou, espichando a mão para receber as chaves do recepcionista, que ficou perplexo ante o inusitado da resposta do escritor gaúcho.
São conhecidas as tiradas de Millôr Fernandes, que se especializou na estilo hai-kai (poemetos de três versos, como: “Viva o Brasil/ onde o ano inteiro/é primeiro de abril!”) e em frases instigantes e provocativas, tais como: “se quiser roubar, roube hoje; amanhã pode ser ilegal”, ou “não podemos resistir às tentações: elas podem não voltar”, entre centenas de expressões publicadas pelo intelectual carioca.
Vinícius de Moraes, quando jovem, num exame escrito, traduziu o lema em latim da bandeira do Estado de Minas Gerais – libertas qaue sera tamem – por “liberta que serás também!”; foi reprovado, mas viveu a vida inteira sustentando que repetiria a tradução.
Pois são essas tiradas, essas sacadas, que podem ajudar a alterar o nosso incômodo cotidiano. Até porque servem para medir as reações das pessoas, para o bem e para o mal. Por isso, talvez, Arroio Grande não fique alheio aos posts do AGDEPRÊ, que, se incomodam alguns, bem revelam a presença de espírito da gurizada que faz valer o seu momento de rebeldia, contestando a velha fórmula de viver da pequena aldeia.
Uma fórmula que para eles, jovens, é cansativa, repetitiva, chata. E chatice ninguém agüenta, é necessário combatê-la, assim como é preciso combater os chatos.
Por falar nisso, lembro de uma ocasião em que o meu pai – um extraordinário frasista – diante de um chato que não nos deixava conversar num bar, propôs, com evidente ironia: “Olha, fulano, nós temos aqui uma regra, quem quiser participar da turma tem que ser o último a sair, nem que seja no raiar do dia”. O homem, assustado diante daquele monte de borrachos, nem disfarçou e logo deu um jeito de ir embora. Aplaudido por ter conseguido nos livrar do chato, o Pedro justificou: – “Não tinha o menor perigo de ele ficar. Chato que é chato incomoda, mas jamais fica para pagar a conta”.
Sei não, mas conheço chatos que são capazes até de pagar a conta apenas para continuar chateando. No AGDEPRÊ, aliás, até os chatos costumam ser chatos para além da conta.